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Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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Por que Bolsonaro não se esborracha

"É impossível não comparar a situação de hoje com as de Collor e Dilma. Se, em nossa cultura política, é tranquilo remover presidentes inadequados através de processos de impeachment, como aconteceu com os dois em curto espaço de tempo, por que tolerar um estafermo como o capitão?", escreve Marcos Coimbra

Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Por Marcos Coimbra

Quem não tem cão, caça com gato e, na falta de pesquisas boas, temos que nos virar com as que andam por aí. Como a recente pesquisa telefônica do Datafolha, que está sendo divulgada desde a semana passada.  

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Antes de tratar do resultado mais relevante, uma nota de cautela: em um país como o Brasil, pesquisas telefônicas não são recomendáveis. Se quisermos saber o que pensa o conjunto da população, não é correto usar uma técnica que exclui as opiniões e sentimentos da ampla parcela que não tem acesso à telefonia ou que até pode tê-lo, mas, por desinteresse, desconfiança ou acanhamento, só dá entrevistas a respeito de temas políticos sob estímulo. Sem a presença física de um entrevistador ou entrevistadora que as encoraje a se manifestar, essas pessoas, normalmente de escolaridade, informação e renda mais baixas, não falam. Muitas, no entanto, votam, pois é assim que funciona nosso sistema eleitoral. É por isso que aprendemos a só confiar nas pesquisas em que entrevistados e entrevistadores interagem face-à-face.   

A enquete telefônica do Datafolha mostra algo que desafia o bom senso. No auge da pior crise sanitária de nossa história moderna, em meio às mais evidentes demonstrações de inépcia e incúria do capitão Bolsonaro e seu governo de idiotas, quase um terço dos entrevistados aprova o conjunto de sua “obra”. Metade responde que é contra o impeachment. 

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É impossível não comparar a situação de hoje com as de Collor e Dilma. Se, em nossa cultura política, é tranquilo remover presidentes inadequados através de processos de impeachment, como aconteceu com os dois em curto espaço de tempo, por que tolerar um estafermo como o capitão?     

Collor, dizia seu irmão, era desonesto, o que foi corroborado por cheques inexplicáveis e depoimentos à vontade. E Bolsonaro, com vinte anos de suspeitas nas costas, dezenas de funcionários fantasmas recebendo e transferindo dinheiro público para as contas da família? Será que o problema é que Collor roubou “muito” e a turma do capitão “só um pouquinho”? Quanto um governante precisa surrupiar para se tornar desonesto?     

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Dilma teria sido tirada por promessas de campanha não cumpridas e fazer um mau governo na economia. E Bolsonaro, que jogou no lixo o que disse ao longo de 2018 a respeito de moralidade, segurança pública e renovação politica? Que tem uma equipe econômica de cascateiros e incompetentes? Que está à frente do governo mais lastimável da história do Brasil, inoperante em tudo, sem nada a mostrar na saúde, educação, meio ambiente, ciência, tecnologia, habitação popular? Cuja única realização é nos tornar párias internacionais? 

Nos dias que correm, quando a mistura de burrice e desumanidade da turma do capitão se traduz nos piores resultados do mundo no enfrentamento da pandemia, passamos de um péssimo presidente a algo mais grave. Percebemos que temos à frente do governo um genocida, um psicopata ou a uma mistura das duas coisas.

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Mas um terço das pessoas diz que o capitão faz um trabalho “bom” ou “ótimo” e metade avalia que deve permanecer no cargo, pelo menos entre aquelas para as quais o Datafolha telefonou. Por quê?

Os casos de Collor, Dilma e do capitão mostram que não há, no Brasil, um “ponto natural”, um nível de desgaste ou decepção que, uma vez alcançado, torna irreversível a derrocada de um presidente. A “inevitabilidade” de uma deposição é fabricada, o que significa dizer que depende do que querem e do modo como se articulam as forças politicas hegemônicas. 

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Uma presidente virtuosa pode tornar-se “insustentável”, enquanto pode “não estar maduro” o impeachment de um picareta responsável por centenas de milhares de óbitos e milhões de pessoas com sequelas para o resto da vida. A crise da imagem de Dilma foi consequência de uma estratégia deliberada de enfraquecimento e não de seus “erros”, que certamente cometeu, como qualquer presidente, sem que nenhum tenha sido deposto por isso. Inversamente, o capitão não cai apesar de suas desonestidades e erros grotescos, porque continua a ser útil ao conjunto de forças que o colocou no poder.

Há quem procure explicar a permanência de Bolsonaro como se decorresse da falta de iniciativa da esquerda, o que não é verdade, pois ela, Lula e o PT sempre lutaram pelo abreviamento do pesadelo. Culpados são os que fingem aguardar que a opinião pública exija algo que procuram evitar, os que só “formam opiniões” quando é de seu interesse.

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Se quisessem, nossas elites destruiriam a imagem do capitão em dois ou três meses, como fizeram com Dilma no passado recente. Seus 30% virariam fumaça. Só que não querem, pois ainda têm muito a embolsar com a atual politica econômica e se pelam de medo de enfrentar o PT em 2022 com seus candidatozinhos de proveta, sem Bolsonaro e sua falta de escrúpulos.    

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